Risco no Planejamento Estratégico. Existe? - Parte I

Prezados leitores e amigos, estive por um longo tempo desenvolvendo trabalhos de consultoria na África Subsariana. Neste retorno quero compartilhar com vocês um pouco dessa experiência, a começar com um tema cada vez mais usado nas organizações que desenvolvemos nossos trabalhos: A Gestão Corporativa de Riscos. 

Por que é tão importante para a administração das empresas identifcar os eventos que, caso ocorram, venham comprometer os resultados esperados? As organizações a que me refiro têm o propósito de ganhar dinheiro hoje e no futuro, existindo assim para gerar valor para seus acionistas. É pensando neste valor que a administração deve gerir quais incertezas intrínsicas ao negócio podem ser aceitas, e quais podem inferir sobre o valor a ser gerado pelo negócio.


Há alguns anos, quando eu projetava circuitos eletrônicos que seriam utilizados em foguetes de contra medidas eletrônicas, meu instrutor balístico, um iraquiano radicado na França disse-me que: "...o desafio a enfrentar como engenheiros eletrônicos era criar através do "controle dos riscos" um sistema lógico, capaz de tornar confiável, segundo os conhecimentos da atualidade, todo e qualquer projeto de natureza militar..."

Quando o assunto é, se algo pode dar ou não errado, tem a famosa lei de "MURPHY" que aqui faço uma pequena, mas siginificativa adaptação: "...Se, num processo complexo, uma das etapas puder ser executada de diversas formas e, entre elas, uma for errada, pode-se ter certeza de que, em alguma ocasião, alguém o fará." Na concepção militar é perdoável ser derrotado, mas NUNCA surpreendido!. Já dizia Frederico o Grande da Prússia em meados do século XVIII em sua "vontade de potência", quando determinou que o ensino primário fosse obrigatório e estatal. O objetivo era transformar camponeses ignorantes em soldados cidadãos, obtendo assim um exército com capacidade analítica e com foco no que de fato poderia afetar os estratagemas.

Não é nada absurdo comparar a gestão empresarial com as estratégias militares, afinal, contamos com concorrentes cada vez mais competitivos, aquisições e fusões, crises, ou seja, é preciso ter competitividade total. Diante deste cenário de incertezas, cada vez mais empresas tem investido em soluções de software com capacidade preditiva. Capacidade esta que a nova geração de Business Intelligence passa a disponibilizar às empresas que querem entender além dos motivos que levaram um cliente a comprar aquele produto ou serviço, mas interessadas em ampliar o lucro operacional, maior retenção de clientes e melhor assertividade nas  projeções financeiras.

Quando uma empresa faz sua formulação estratégica, ela cria cenários que embutem um certo grau de incerteza de que aquelas previsões de resultados venham a acontecer. Isso quer dizer que o planejamento leva em consideração "possibilidades" que "algo" pode não dar certo! Em outras palavras, é o "felling" dos gestores do nível estratégico e tático que dá o tom dessa percepção de haver uma possibilidade de "algo" vir a dar errado. A empresa por sua vez, não deve economizar esforços para identificar que "condição" fortuita e de consequências negativas ou danosas, podem levar a aumentar ou mesmo diminuir o potencial das perdas. Identificadas essas "condições" o segundo passo é decidir o quanto a empresa esta disposta a ficar exposta as mesmas. De uma forma genérica, definimos "RISCO".

Relação entre Possibiidade e Probabilidade
Firmemos o conceito de que o risco é uma possibilidade da ocorrência de um evento "possível" vir a acontecer. Em minhas viagens pela África, constatei que o hábito de fazer caminhadas pelas savanas após as 22h, consistia de uma real possíbilidade, improvável, mas de previsível probabilidade de você ser atacado por um leão. Apesar do ser humano não fazer parte da cadeia alimentar destes exuberantes felinos, no entanto, fatores como idade e incapacidade física de caçar suas presas naturais, fizeram com que alguns se acostumassem a alimentar-se de carne humana.

Diante do exposto, entendemos que risco é uma possibilidade e que o acontecimento tem que ser possível e ser provável. Ao mesmo tempo, tem que ter um grau de incerteza de que poderá ocorrer. No cenário das savanas acima, não podemos considerar como risco porque eu conheço as consequências antes de vir a fazer a tal caminhada. No entanto, para um turista, sim, porque o acidente é uma possibilidade que terá que ser de evitada a todo custo. Matemáticamente pode descrever o risco como uma função direta da possibilidade e probabilidade de um determinado evento: risco = f(probabilidade de ocorrência, potencial de dano causado).

Recomendo a vocês uma literatura muito interessante sobre riscos. Trata-se da obra do renomado escritor Peter Lewyn Bernstein (p. VII, 3a edição, 1996), de onde transcrevo: “Quando investidores compram ações, cirurgiões realizam operações, engenheiros projetam pontes, empresários abrem seus negócios e políticos concorrem a cargos eletivos, o risco é um parceiro inevitável. Contudo, suas ações revelam que o risco não precisa ser hoje tão temido: administrá-lo tornou-se sinônimo de desafio e oportunidade”.

Um estudo efetuado pela London Business School junto a grandes empresas revela que 36% dos diretores que participaram no estudo não entendem completamente os principais riscos que os seus negócios enfrentam, 24% revelam que os seus processos para gerir o risco são ineficientes e, 19% confessam que não usam quaisquer processos. As empresas que descuidam da gestão dos seus processos de risco expõem-se à ocorrência de eventos que, embora inesperados, poderão levar a grandes perdas financeiras.

Na parte II deste artigo falaremos dos aspectos que envolvem a categorização dos riscos corporativos, sua aplicabilidade e as soluções tecnológicas que facilitam em muito o acompanhamento e monitoramento.



2 comentários:

Anônimo disse...

Ola Joel

Muito bom este artigo. Obrigada.
Ha um tendencia, digamos humana de ignorar o risco. Mas, sempre que pensamos em investir, aparece-nos uma nuvem de incertezes, como que uma premonicao de que algo de errado (o tal risco) pode acontecer. E como tambem e humano la vamos nos com a certeza de que o futuro pode mudar o curso das coisas e que o risco acontece com os outros e nunca connosco.
Mas, temos de aprender c a experiencia dos outros e com a sabedoria de quem estudou as firmas de minimizar estas situacoes. Por isso, aguardo pela segunda parte deste artigo.
Saude e paz
Analtina

Joel Batista disse...

Obrigado, Analtina.
A premissa da geração de riscos é que todo e qualquer empreendimento existe para gerar valor para as partes interessadas (acionistas, sócios, etc).As incertezas são inerentes ao negócio de cada empresa, o desafio é identificar até que ponto tais incertezas podem interferir na geração de valor para as partes interessadas quando tais riscos são aceitos pelos administradores.

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